Gazeta do Povo, em 19/3/2012
Universalização do ensino público e alfabetização de jovens e adultos ajudam a tirar 2 milhões de brasileiros do limbo educacional
Dois milhões de brasileiros aprenderam a ler e escrever na década passada, segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2000, o contingente de analfabetos somava 16 milhões de indivíduos. Dez anos depois, caiu para 14 milhões. No período, os indicadores de mais de 200 cidades do país evoluíram a ponto de serem consideradas livres do analfabetismo.
Desde 2007, o Ministério da Educação (MEC) reconhece como municípios livres desse mal aqueles que conseguem atingir uma taxa inferior a 4% de pessoas não alfabetizadas na população com 15 anos ou mais de idade. Ao todo, segundo o Censo 2000, o país tinha 64 cidades que conseguiram erradicar o analfabetismo, três delas no Paraná: Quatro Pontes, Entre Rios do Oeste e Curitiba.
Já no último levantamento do IBGE, em 2010, o número de cidades brasileiras livres do problema aumentou mais de quatro vezes, passando para 283. No Paraná, mais 15 cidades se somaram à lista: Bom Sucesso do Sul, Nova Santa Rosa, Mallet, Maringá, Maripá, Pinhais, São José dos Pinhais, Rio Negro, Araucária, Paulo Frontin, Ponta Grossa, Pato Bragado, São Mateus do Sul, Marechal Cândido Rondon e Paranaguá.
Para especialistas, um fator que contribuiu diretamente para a queda do índice foi a universalização do ensino público nos últimos anos. Cada vez mais crianças estão entrando em sala de aula ainda em idade escolar e, como consequência, cresce a quantidade de jovens que completam 15 anos de idade alfabetizados, ainda que alguns não estejam mais estudando. Outro fator é que muitas pessoas só conseguem voltar a estudar, ou mesmo começam seus estudos, já na juventude ou na idade adulta. Nesse aspecto, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos municípios e os programas de alfabetização ainda têm um papel fundamental.
Avanço
A cidade de Ponta Grossa (Campos Gerais), por exemplo, em dez anos, conseguiu reduzir de 5,71% para 3,3% a sua taxa de analfabetismo. Em 2006, as atividades da EJA na cidade foram intensificadas. “Naquele ano, nós fizemos um minicenso educacional e ouvimos mais de 30 mil pessoas, cerca de 10% da população de Ponta Grossa, para saber quais comunidades mais precisavam ter acesso à EJA. Começamos com turmas em 45 escolas e hoje temos apenas 16 turmas, cada uma com 15 alunos em média. Mas isso é um processo natural. É um trabalho feito para se extinguir, além de sinalizar que temos cada vez menos pessoas analfabetas na cidade”, afirma a secretária de Educação do município, Zélia Marochi.
Ela explica que a alfabetização é apenas uma parte do programa de aprendizado. Em dois anos, os alunos podem cursar do primeiro até o quinto ano do Ensino Fundamental. “Eles também podem fazer uma prova durante o curso e, se aprovados, passam direto para o módulo seguinte, entre o sexto e o nono ano do fundamental”, explica. Segundo Zélia, o município já investiu cerca de R$ 1,8 milhão na EJA desde 2006. Cerca de 4 mil pessoas já se alfabetizaram por meio do programa. As aulas são realizadas todas as noites da semana em algumas escolas municipais.
Analfabeto funcional ainda é um problema
Apesar do crescimento do número de municípios livres do analfabetismo, outro problema persiste: o analfabetismo funcional. Integram esse grupo as pessoas que conseguem ler, mas não compreendem o sentido de um texto e tampouco se expressar com a escrita. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2009, do IBGE, mostra que 20% da população brasileira com 15 anos ou mais de idade não chegaram a completar quatro anos de estudos e, por esse critério da pesquisa, são considerados analfabetos funcionais.
Para a professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), Maria Clara di Pierro, esse é um quadro que não pode ser ignorado. “Os números da erradicação do analfabetismo podem até ser comemorados, mas isso não pode dar a sensação de que o problema foi superado, porque ele aparece, depois, na forma do analfabetismo funcional”, ressalta.
Para ela, uma solução possível são políticas públicas que deem prioridade à Educação de Jovens e Adultos (EJA) para que os alunos se interessem em prosseguir no processo de escolarização. Maria Clara defende que isso comece a ser feito na própria sala de aula. “Alguns educadores, pela falta de uma formação adequada, baseiam-se no mesmo modelo da educação infantil para ensinar os adultos. Eles precisam entender que essas pessoas não têm obrigação de estar ali e, por isso, precisam se sentir continuamente estimuladas”, orienta.
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